quarta-feira, 1 de junho de 2011

Tony Garnier e seu conceito sobre arquitetura


PREFÁCIO

O artigo faz uma análise da história e a formação de Tony Garnier para se chegar a conclusão porque considerava a arquitetura antiga um erro. Pelo fato do arquiteto ter vivido em meio socialista, com fortes tendências da engenharia, com o surgimento do concreto armado, Garnier se torna um arquiteto motivado a expressar o futuro, com suas obras voltadas ao “moderno”, ao novo. Esta análise foi baseada em alguns livros nos quais os autores discorrem sobre suas obras.



TONY GARNIER E SEU CONCEITO SOBRE ARQUITETURA

Tony Garnier explicita seu conceito conciso sobre arquitetura colocando que:A arquitetura antiga é um erro. Só a verdade pode ser bela. Em arquitetura, a verdade é o resultado de cálculos feitos para satisfazer necessidades de materiais conhecidos”.

Tony Garnier
FONTE:http://architectureandurbanism.blogspot.com

Introdução

Tony Garnier, nasceu em 1869 em Lyon. Seu pai, Pierre Garnier, era um designer de seda. Sua mãe, Anne Evrard era uma tecelã. De uma idade muito jovem, ele foi confrontado com a duras condições de vida dos trabalhadores de seda. Criado em um bairro de operarios radicais onde ainda estavam vivos os ideais do socialismo, permanecendo coerentemente ligado à causa socialista até sua morte em 1948.  Assim fica evidente, ao se analisar seu projeto de cidade industrial, a influencia deste meio em que viveu.
Através de sua paixão pela arquitetura, ele procurou encontrar uma solução para o problema da habitação social. Inventar uma nova forma de pensar sobre a habitação se tornou uma de suas principais preocupações.
Desde sua infância, a ambição de Tony Garnier foi se tornar um arquiteto. Sua grande motivação explica seu sucesso, em um tempo em que a maioria dos jovens arquitetos estavam seguindo os passos de seus pais ...

Tony Garnier começou a estudar na "La Martinière aux Terreaux" (1883-1886) antes de ir para Lyon Escola de Belas Artes (1883-1886). Em 1889, entrou na École des Beaux-Arts em Paris, onde foi influenciado pelo seu professor de teoria Julien Guadet, que ensinava preceitos do Racionalismo clássico além de análise de programas e classificação de tipos de edificios.
 Depois de 10 anos em Paris, ganhou o"Grande Prémio de Roma” com o projeto para a reconstrução imaginária completa e igualmente sem precedentes da cidade de Tusculum, composto por dezenas de milhares de colunas dóricas, jônicas e coríntias. E isso permitiu que ele se tornasse um residente na "Villa Médicis", em Roma durante quatro anos, onde estudou monumentos antigos. Na mesma época Frank Lloyd Wright, projetava casas no subúrbio de Chicago e Ebenezer Howard persistia em seu conceito de cidade-jardim.

 A maior parte de seu tempo era dedicado a um projeto para a criação de uma nova cidade moderna, chamada de Cidade Industrial.Tendo o concreto armado como base de sua obra, além do ferro e do vidro. Utilizou as “potencialidades inexploradas” do novo material “para organizar toda uma cidade segundo princípios originais e extremamente visionários”, como traduz  Sigfried Giedion.


Cité Industrielle

A maior parte de seu tempo era dedicado a um projeto para a criação de uma nova cidade moderna, chamada de Cidade Industrial.Tendo o concreto armado como base de sua obra, além do ferro e do vidro. Utilizou as “potencialidades inexploradas” do novo material “para organizar toda uma cidade segundo princípios originais e extremamente visionários”, como traduz Sigfried Giedion.

O plano da cidade industrial feita por Tony Garnier, abrangendo 35 mil habitantes, antecipava, com seu zoneamento,os princípios da Carta de Atenas, que foi o primeiro manifesto do urbanismo progressista, criado pelos membros da CIAM ( Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) que colocaram o urbanismo como primeiro plano de preocupações.

Um projeto sensivelmente relacionado com seu entorno, como cita Kenneth Frampton  ” uma cidade socialista sem muros ou propriedade privada, sem igreja ou quartéis, sem delegacia de policia ou tribunal de justiça; uma cidade onde todas as áreas não construídas eram parques públicos.”


Cité Industrielle
                     FONTE: http://exhibits.slpl.org/steedman/data/Steedman240088583.asp#

Garnier, no prefácio de Une Cité Industrielle(1917), nos conta que o fator determinante para a implantação da cidade não foi simplesmente a proximidade de matérias primas ou a existência de rede de transporte, mas sim a existência de um afluente. Assim o afluente represado funciona como uma usina hidrelétrica que distribui energia para todo o funcionamento da cidade.

Nascida de uma ampla compreensão das exigências sociais, inter-relaciona de forma orgânica todas as funções da cidade. Com uma clara separação entre as funções da cidade: lazer, trabalho, habitação e transporte. Cada atividade possuía um espaço próprio para que uma não implicasse em alteração nas outras. Também fábrica, cidade e instalações sanitárias mostram-se isoladas para se permitir as futuras ampliações. Na planta abaixo há uma clara representação destas separações da organização da cidade.


                                           Planta da cidade industrial
                                           FONTE:http://mr-ablehomedesign.blogspot.com

                                           1- Cidade Antiga
                                           2- Estação Central
                                           3- Bairros residenciais
                                           4- Centro
                                           5- Escolas primárias
                                           6- Escolas profissional
                                           7- Hospital 
                                           8- Estação
                                           9- Zona industrial
                                          10- Estação industrial
                                          11- Cemitério
                                          12- Matadouro


Baseado na idéia de que a arquitetura começa no edifício e termina no planejamento urbano, mesmo com seus inúmeros detalhes, projetou desde  casas, escolas, estações, ferroviárias e hospitais, não se perdendo em seu projeto como muitos de seus contemporâneos. Frampton aprecia esse nível de detalhamento como sua contribuição única, além da modernidade de sua concepção.

As casas eram igualmente simples, sem ornamentações que formavam uma malha uniforme de tal forma que Leonardo Benevolo caracteriza os bairros residenciais por um efeito graficamente monótono.

Garnier, como define Kenneth Frampton, “introduziu uma velha cidade medieval dentro dos limites de sua cidade industrial” e conseguiu criar uma cidade propícia ao seu crescimento e evolução e ainda impõe uma “soberania de cidade enquanto força civilizadora”. Vai além na penetração dos problemas que a sociedade moderna apresenta à arquitetura

                                          Zona Industrial 
                                                        FONTE: http://utopies.skynetblogs.be/04-theories-transitoires/


                                          Zona Residencial
                                                        FONTE:http://exhibits.slpl.org/steedman/data/Steedman240088583.asp#


                                          Escola Profissional
                                          FONTE:http://utopies.skynetblogs.be/04-theories-transitoires/


                                            Estação Central da cidade industrial
                                                         FONTE: http://utopies.skynetblogs.be/04-theories-transitoires/



Lyon
Além da Cidade Industrial, Garnier aplicou seus conceitos arquitetonicos à sua cidade de origem, Lyon entre 1904 e 1914, construindo uma série de edificios publicos e de bairros residenciais em um plano unitario.  Nesta época Edouard Herriot tornara-se prefeito de Lyon, e encomendou seu primeiro edificio, uma modesta leiteria com estrebaria no parque Tête d’Or, e todos os edificios posteriores.

Surge uma grande relação entre comitente e arquiteto, Herriot chega a escrever-lhe: “sempre admirei nele a coincidência de um método rigoroso com um temperamento artístico que procura inspiração nas mais puras fontes do helenismo.”

Em 1919 publica estes projetos dos Grands Travaux de la Ville de Lyon, que foram almplamente conhecidos e sobrevivem até hoje, como comenta Benevolo, não apenas como formas arquitetonicas mas como orgãos da moderna Lyon.

Algumas das "grandes obras" da cidade foram: Matadouro de La Mouche e do mercado de gado (1908-1928), Hospital de Grange-Blanche (1911-1933), Estádio Municipal de Gerland (1913-1926 ) e área de Habitação Social "Les Etats-Unis" (1919-1933).

 
                                                         Estádio Municipal de Gerland
                                           FONTE:http://www.museeurbaintonygarnier.com/
                                                

                                                        Matadouro de La Mouche e do mercado de gado
                                          FONTE: http://ocapitao.wordpress.com/2009/12/05/rammstein/


                                                        Matadouro de La Mouche e do mercado de gado- interior
                                                        FONTE: http://www.dboc.net/lyon/oc_mutg_en.php

Conclusão

Estudando sua arquitetura e seu plano urbanistico pode-se perceber todos os seus conceitos neles inseridos, explicando assim sua polemica frase que inicia este artigo que foi publicada em 1901 em Buldier.
Leonardo Benevolo caracteriza a arquitetura de Tony Garnier nem como um confronto com a finura de Horta ou de Van der Velde, nem com o rigor de Loos, nem com a audácia de Wright, e ainda que possa parecer tímida e passadista por suas inspirações clássicas em muitos aspectos acredita que torna-se o mais moderno entre seus contemporâneos.

Assim como Perret, acreditava em uma arquitetura sem rebuscamentos e excessos, na existencia de uma arquitetura homogenea que se adapta as mudanças dos tempos mas que tenha fundamentos formais imutaveis. Uma arquitetura na qual há uma harmonia preestabelecida entre herança arquitetonica (classicos) e tecnica construtiva.

Garnier acreditava que os cálculos e a técnica construtiva com novos tipos de materiais levariam à arquitetura verdadeiramente bela, com construções funcionais que valorizem a autenticidade dos materiais. Os meios utilizados pelos engenheiros estão sendo aplicados à arquitetura para dominar os problemas de construção contemporâneos.

A arquitetura antiga era um erro, portanto as novas construções deveriam ser projetadas para parecem atuais. Assim Garnier especifica sua cidade industrial através da análise e separação das funções urbanas, exaltação dos espaços verdes, e a utilização dos materiais novos, como o concreto armado, do mesmo modo de Nicolau Pevsner. Ele aplica ao ferro e ao cimento,às fabricas e às estações os mesmos métodos de projeto.

Benevolo também considera que Garnier “tem sempre em mente que objetivo de toda intervenção é a cidade e que o edificio só tem sentido como contribuiçao à vida da cidade.” E ainda, que os escritos pouco representam uma personalidade que tanto se expressou de forma prática, é a experiencia mais avançada no periodo que precede o nascimento do movimento moderno e suas proprias limitações.

Bibliografia


GIEDION, Sigfried. Espaço, tempo e arquitetura: o desenvolvimento de uma nova tradição. Trad. Alvamar Lamparelli. São Paulo: Martins Fontes, 2004
BENEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. Editora PERSPECTIVA. Brasil, 2001

PEVSNER, Nikolaus. Os pioneiros do desenho moderno: de William Morris a Walter Groupis. Editora MARTINS FONTES. LOCAL. 2002

                                                      FRAMPTON, Kenneth. História critica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2000

 CHOAY, Françoise. O Urbanismo. Trad. Dafne Nascimento Rodrigues. Editora PERSPECTIVA. São Paulo, 6® edição, 2010 

                                         www.museeurbaintonygarnier.com

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